O jornalista Samuel Wainer foi um dos maiores repórteres brasileiros de todos os tempos, e isso já bastaria para que o país desejasse conhecer suas memórias. Grandes repórteres quase sempre se transformam em relevantes testemunhas da História, e à luz de seus relatos fica mais fácil compreender como foi certa época num determinado país, e como eram os homens a quem coube desempenhar papéis decisivos, e como se deram exatamente os fatos.
Os membros dessa tribo fascinante, por sinal, são dotados de um instinto mediúnico que, aliado à sorte que contempla alguns eleitos, costuma levá-los a estar no lugar certo na hora certa. Não surpreende, no que talvez seja o mais espetacular exemplo já oferecido pela tribo, que o americano John Reed estivesse em Moscou em 1917, pronto para o registro dos dez dias que abalariam o mundo. Como não surpreende que o jovem repórter Samuel Wainer, no Carnaval de 1949, tivesse resolvido tentar uma improvável entrevista com Getúlio Vargas em seu retiro gaúcho. Algo lhe dizia, acertadamente, que o velho caudilho estava disposto a quebrar três longos anos de silêncio.
Nos trinta anos seguintes, o grande repórter Samuel Wainer seria um privilegiado espectador de seu tempo, e isso não é pouco. Quis o destino, contudo, que o homem Samuel Wainer fosse também um protagonista da História, singularidade que haveria de enriquecer dramaticamente sua biografia. Íntimo amigo de três presidentes da República - Getúlio, Juscelino Kubitschek e João Goulart - Samuel conheceu como nenhum outro jornalista brasileiro os bastidores do poder. Também como nenhum outro jornalista jamais pôde, ou soube, fazê-lo, ali exerceu sua influência. É o que mostram as páginas deste Minha razão de viver.
Elas contam a trajetória que levou o menino pobre do bairro paulistano do Bom Retiro "um judeuzinho como tantos", na definição do próprio Samuel a conhecer as pompas do mundo e, de pois, a viver pendurado numa gangorra destinada a oscilar permanentemente entre a montanha e a planície. De um lado estavam os palácios, os salões elegantes e belas mulheres, os gabinetes dourados, as reverências ao criador da Última Hora. De outro, espreitavam-no o exilio, o ostracismo, as prisões, a guerra de extermínio movida a um intruso no clube da grande imprensa, as humilhações; a queda.
Samuel descreve suas temporadas no céu e no inferno com a naturalidade que honra a memorialística brasileira. Honra e convida à reflexão. Num país em que quase todos os autores de livros de memórias parecem condenados a confirmar o "Poema em linha reta", de Fernando Pessoa, tentando congelar a imagem de quem foi só príncipe na vida, Samuel descreve pequenas e grandes derrotas, pecados maiores e menores, com uma sinceridade desconcertante.
Desconcertante, pungente e, sobretudo, engrandecedora. Samuel poderia ter-se li mitado ao relato de seus muitos êxitos, à descrição dos grandes momentos. Em vez disso, decidiu que seus olhos passeariam indistintamente pelas luzes e sombras do passado. Essa sinceridade contribui poderosamente para fazer das memórias de Samuel Wainer um depoimento indispensável à compreensão do Brasil que ele conheceu. Se ajuda a compreender o Brasil, a leitura de Minha razão de viver ilumina por inteiro a figura de seu autor. E consolida a impressão de que a vida do homem Samuel Wainer foi a melhor reportagem concebida pelo repórter Samuel Wainer.
Os membros dessa tribo fascinante, por sinal, são dotados de um instinto mediúnico que, aliado à sorte que contempla alguns eleitos, costuma levá-los a estar no lugar certo na hora certa. Não surpreende, no que talvez seja o mais espetacular exemplo já oferecido pela tribo, que o americano John Reed estivesse em Moscou em 1917, pronto para o registro dos dez dias que abalariam o mundo. Como não surpreende que o jovem repórter Samuel Wainer, no Carnaval de 1949, tivesse resolvido tentar uma improvável entrevista com Getúlio Vargas em seu retiro gaúcho. Algo lhe dizia, acertadamente, que o velho caudilho estava disposto a quebrar três longos anos de silêncio.
Nos trinta anos seguintes, o grande repórter Samuel Wainer seria um privilegiado espectador de seu tempo, e isso não é pouco. Quis o destino, contudo, que o homem Samuel Wainer fosse também um protagonista da História, singularidade que haveria de enriquecer dramaticamente sua biografia. Íntimo amigo de três presidentes da República - Getúlio, Juscelino Kubitschek e João Goulart - Samuel conheceu como nenhum outro jornalista brasileiro os bastidores do poder. Também como nenhum outro jornalista jamais pôde, ou soube, fazê-lo, ali exerceu sua influência. É o que mostram as páginas deste Minha razão de viver.
Elas contam a trajetória que levou o menino pobre do bairro paulistano do Bom Retiro "um judeuzinho como tantos", na definição do próprio Samuel a conhecer as pompas do mundo e, de pois, a viver pendurado numa gangorra destinada a oscilar permanentemente entre a montanha e a planície. De um lado estavam os palácios, os salões elegantes e belas mulheres, os gabinetes dourados, as reverências ao criador da Última Hora. De outro, espreitavam-no o exilio, o ostracismo, as prisões, a guerra de extermínio movida a um intruso no clube da grande imprensa, as humilhações; a queda.
Samuel descreve suas temporadas no céu e no inferno com a naturalidade que honra a memorialística brasileira. Honra e convida à reflexão. Num país em que quase todos os autores de livros de memórias parecem condenados a confirmar o "Poema em linha reta", de Fernando Pessoa, tentando congelar a imagem de quem foi só príncipe na vida, Samuel descreve pequenas e grandes derrotas, pecados maiores e menores, com uma sinceridade desconcertante.
Desconcertante, pungente e, sobretudo, engrandecedora. Samuel poderia ter-se li mitado ao relato de seus muitos êxitos, à descrição dos grandes momentos. Em vez disso, decidiu que seus olhos passeariam indistintamente pelas luzes e sombras do passado. Essa sinceridade contribui poderosamente para fazer das memórias de Samuel Wainer um depoimento indispensável à compreensão do Brasil que ele conheceu. Se ajuda a compreender o Brasil, a leitura de Minha razão de viver ilumina por inteiro a figura de seu autor. E consolida a impressão de que a vida do homem Samuel Wainer foi a melhor reportagem concebida pelo repórter Samuel Wainer.