Olá, leitor. Seguinte: pule esta orelha. Sim, pule-a e vá direto para algum dos contos deste livro. Leia. Respire.
Aí, depois, volte e leia isto aqui…
Isso. Assim. Ótimo. Vamos lá: o primeiro conto que li deste livro foi assim, de uma vez. Ao final só, é que lembrei de respirar. Devem fazer uns dez anos, já. Na época, participávamos do mesmo grupo de teatro, eu e o Rodrigo. As sextas-feiras, depois do ensaio, íamos comer um pastel e tomar uma cerveja no sacolão ali perto. Um dia, no meio de um debate acalorado sobre alguma peça que víramos (acho que era Quartet, do Bob Wilson, que então inflamava as almas dos jovens teatristas como nós), o Rodrigo me puxou de canto e perguntou se poderia mostrar um texto, um conto, aí, que ele tinha escrito. Era O búfalo no laranjal. Depois da primeira respirada pós-leitura eu conseguia pensar, apenas: você precisa publicar isso aqui, puta merda.
Eis que está. Aqui, o livro publicado. E eu escrevendo a orelha. Puxa.
Ninguém sabe, mas muitos desses contos já fizeram parte de um plano secreto de encenação (vou supor que esse plano ainda exista, já que eu, um diretor de teatro, fui convidado para escrever a orelha!). A ideia era simples: o Rodrigo ia escrevendo, a gente ia juntando, e quando tivesse um número bom, teríamos uma obra. Isso me botou num lugar especial, acho: eu ia lendo cada um desses contos à medida que iam ficando prontos, assim, quentinhos do forno. Depois que os planos de encenação tinham sido postos um pouco de lado, virei um dos primeiros leitores: leia e fale o que acha, sinceramente, ele dizia. Mas cada vez a mesma surpresa, cada vez a mesma leitura em um fôlego, cada vez a mesma sensação.
Minha hipótese: o procedimento de escrita disso aqui tem uma conexão que ainda precisa ser explicada com a vida humana. É. Porque ainda que dotada de infinitas particularidades, a seleção de contos deste livro parece estar à procura de algo comum, alguma coisa que possa ser definida como humana, mesmo. Não me entenda mal, não estou querendo apelar a algum tipo de humanismo barato ou a um realismo clichê. Nem sei se essa coisa humana existe, se a arte tem qualquer possibilidade de apreendê-la. Eu espero que sim. Não sei. Mas siga o meu conselho: pule esta orelha e abra em qualquer um dos contos. A escrita, quase sempre um fluxo aterrador de pensamentos, conduz através do ritmo e cria - muitas vezes a contragosto do leitor - as imagens que abrem esse ponto de contato com uma realidade concreta viva, colorida, contraditória.
Sei lá. Sem mais: à leitura.
Aí, depois, volte e leia isto aqui…
Isso. Assim. Ótimo. Vamos lá: o primeiro conto que li deste livro foi assim, de uma vez. Ao final só, é que lembrei de respirar. Devem fazer uns dez anos, já. Na época, participávamos do mesmo grupo de teatro, eu e o Rodrigo. As sextas-feiras, depois do ensaio, íamos comer um pastel e tomar uma cerveja no sacolão ali perto. Um dia, no meio de um debate acalorado sobre alguma peça que víramos (acho que era Quartet, do Bob Wilson, que então inflamava as almas dos jovens teatristas como nós), o Rodrigo me puxou de canto e perguntou se poderia mostrar um texto, um conto, aí, que ele tinha escrito. Era O búfalo no laranjal. Depois da primeira respirada pós-leitura eu conseguia pensar, apenas: você precisa publicar isso aqui, puta merda.
Eis que está. Aqui, o livro publicado. E eu escrevendo a orelha. Puxa.
Ninguém sabe, mas muitos desses contos já fizeram parte de um plano secreto de encenação (vou supor que esse plano ainda exista, já que eu, um diretor de teatro, fui convidado para escrever a orelha!). A ideia era simples: o Rodrigo ia escrevendo, a gente ia juntando, e quando tivesse um número bom, teríamos uma obra. Isso me botou num lugar especial, acho: eu ia lendo cada um desses contos à medida que iam ficando prontos, assim, quentinhos do forno. Depois que os planos de encenação tinham sido postos um pouco de lado, virei um dos primeiros leitores: leia e fale o que acha, sinceramente, ele dizia. Mas cada vez a mesma surpresa, cada vez a mesma leitura em um fôlego, cada vez a mesma sensação.
Minha hipótese: o procedimento de escrita disso aqui tem uma conexão que ainda precisa ser explicada com a vida humana. É. Porque ainda que dotada de infinitas particularidades, a seleção de contos deste livro parece estar à procura de algo comum, alguma coisa que possa ser definida como humana, mesmo. Não me entenda mal, não estou querendo apelar a algum tipo de humanismo barato ou a um realismo clichê. Nem sei se essa coisa humana existe, se a arte tem qualquer possibilidade de apreendê-la. Eu espero que sim. Não sei. Mas siga o meu conselho: pule esta orelha e abra em qualquer um dos contos. A escrita, quase sempre um fluxo aterrador de pensamentos, conduz através do ritmo e cria - muitas vezes a contragosto do leitor - as imagens que abrem esse ponto de contato com uma realidade concreta viva, colorida, contraditória.
Sei lá. Sem mais: à leitura.