Hesitei novamente antes de me decidir a retomar esta autobiografia. A minha volta, como em mim mesma, não faltavam objeções: "É cedo de mais, você ainda não tem atrás de si uma obra suficientemente rica". Ou: "Espere até poder dizer tudo - as lacunas e os silêncios deturpam a ver- dade". E também: "Você carece de perspectiva". Ou ainda: "Afinal você se revela mais nos seus romances". Nada disso é falso: mas eu não tenho escolha. A indiferença, serena ou desolada, da decrepitude não me permitiria mais apreender o que desejo captar: esse momento em que, no limiar de um passado ainda ardente, o declínio começa. Talvez seja demasiado cedo: mas amanhã será seguramente tarde demais.
"Sua história é conhecida, disseram-me, pois desde 1944, tornou-se pública." Mas mesmo essa publicidade não foi mais que uma dimensão de minha vida particular, e, como um de meus objetivos é dissipar mal-entendidos, parece-me útil contá-la em sua verdade. Este livro se entrecruza com algumas de minhas outras obras, e sei que, por isso, resultou desequilibrado: paciência. Como quer que seja, não pretendo que se imponha como uma obra de arte: estas palavras me fazem pensar numa estátua que se aborrece no jardim de um palacete; são palavras de colecionador, palavras de consumidor e não de criador. Não! uma obra de arte, não, e sim minha vida em seus impulsos, suas tristezas, suas emoções, minha vida que tenta contar-se e não servir de pretexto a elegâncias.
Procurei ser imparcial. Um comunista, um gaulista contariam de outro modo esses anos; como também um operário, um camponês, um coronel, um músico. Mas minhas opiniões, convicções, perspectivas, interesses, compromissos estão declarados: fazem parte do testemunho que dou, partindo deles. Sou objetiva, na medida, bem entendido, em que minha objetividade me envolve.
Como o precedente, este livro solicita a colaboração do leitor: apresento, em ordem, todos os momentos de minha evolução, e é preciso ter a paciência de não encerrar as contas antes do fim.
S. B.
"Sua história é conhecida, disseram-me, pois desde 1944, tornou-se pública." Mas mesmo essa publicidade não foi mais que uma dimensão de minha vida particular, e, como um de meus objetivos é dissipar mal-entendidos, parece-me útil contá-la em sua verdade. Este livro se entrecruza com algumas de minhas outras obras, e sei que, por isso, resultou desequilibrado: paciência. Como quer que seja, não pretendo que se imponha como uma obra de arte: estas palavras me fazem pensar numa estátua que se aborrece no jardim de um palacete; são palavras de colecionador, palavras de consumidor e não de criador. Não! uma obra de arte, não, e sim minha vida em seus impulsos, suas tristezas, suas emoções, minha vida que tenta contar-se e não servir de pretexto a elegâncias.
Procurei ser imparcial. Um comunista, um gaulista contariam de outro modo esses anos; como também um operário, um camponês, um coronel, um músico. Mas minhas opiniões, convicções, perspectivas, interesses, compromissos estão declarados: fazem parte do testemunho que dou, partindo deles. Sou objetiva, na medida, bem entendido, em que minha objetividade me envolve.
Como o precedente, este livro solicita a colaboração do leitor: apresento, em ordem, todos os momentos de minha evolução, e é preciso ter a paciência de não encerrar as contas antes do fim.
S. B.