Em Meu marido, Lívia narra, em primeira pessoa, a progressiva ruína de uma família, na qual a narradora é uma professora de inglês, conformada com seu casamento com o delegado Eduardo Durand, feliz com o filho Raphael, com a babá e faz-tudo Dulce, instalados todos com um cachorro num amplo apartamento de quatro quartos num bairro tranquilo do Rio de Janeiro. Em torno de Bela gravita sua família – o pai, a mãe e uma irmã problemática –, que mora no interior de Minas Gerais. Contrapondo-se à solidez das raízes da mulher, Eduardo se agarra à instável relação com amigos amalucados.
É dessa tensão entre polos opostos, que se atraem e se rejeitam, que o jovem casal tenta erigir um porto seguro. Neurótico, alcoólatra, egoísta, detentor de um humor corrosivo, e pouco afeito à vida social, Eduardo age como um furacão que a tudo arrasa. Bela se agarra aos poucos fios que podem lhe garantir segurança - a busca da regularidade nos horários da natação de Raphael, nas aulas que ministra, na administração doméstica para sobreviver ao turbilhão.
A narradora nos oferece, em quadros que lembram aquarelas, esmaecidas e melancólicas, alguns poucos anos da vida em comum. Episódios corriqueiros que vão chuleando a passagem do tempo - os vexames provocados pelas bebedeiras de Eduardo, uma visita da família, o crescimento do filho, as constantes viagens do marido, a perda do interesse sexual, as desconfianças de Bela em relação à fidelidade do marido, os misteriosos telefonemas, a separação inevitável e a inevitável volta - até o trágico desfecho.
Um pantanoso relato, já que, habilmente, Livia Garcia-Roza o constrói de um ponto de vista único, o de Bela, que se mostra sempre paciente, correta, cordata, quase como espectadora da sua própria derrocada. E esse talvez seja o grande desafio imposto ao leitor: adivinhar a história que não está referida...
Luiz Ruffato
É dessa tensão entre polos opostos, que se atraem e se rejeitam, que o jovem casal tenta erigir um porto seguro. Neurótico, alcoólatra, egoísta, detentor de um humor corrosivo, e pouco afeito à vida social, Eduardo age como um furacão que a tudo arrasa. Bela se agarra aos poucos fios que podem lhe garantir segurança - a busca da regularidade nos horários da natação de Raphael, nas aulas que ministra, na administração doméstica para sobreviver ao turbilhão.
A narradora nos oferece, em quadros que lembram aquarelas, esmaecidas e melancólicas, alguns poucos anos da vida em comum. Episódios corriqueiros que vão chuleando a passagem do tempo - os vexames provocados pelas bebedeiras de Eduardo, uma visita da família, o crescimento do filho, as constantes viagens do marido, a perda do interesse sexual, as desconfianças de Bela em relação à fidelidade do marido, os misteriosos telefonemas, a separação inevitável e a inevitável volta - até o trágico desfecho.
Um pantanoso relato, já que, habilmente, Livia Garcia-Roza o constrói de um ponto de vista único, o de Bela, que se mostra sempre paciente, correta, cordata, quase como espectadora da sua própria derrocada. E esse talvez seja o grande desafio imposto ao leitor: adivinhar a história que não está referida...
Luiz Ruffato