Um tema desafiador – Ler e escrever no escuro - demanda pesquisador capaz de mergulhar com risco em área de penumbra, para desvendar a experiência de leitura entre cegos e leitores com perda de visão. Perturbador vai ser acompanhar o texto denso e delicado, profundo e acessível que postula paralelamente a cegueira de todo e qualquer leitor ante um texto, ao iniciar seu exercício.
Se ler é um ato de coragem em si mesmo, barthesianamente falando, ato de coragem é a empresa desta pesquisadora Denise Schittine que, com fôlego extraordinário, dialoga com Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto, dissecando vozes e silêncios para abrir passo a universos vastos como o de ledores e de leituras compartilhadas que são contribuição surpreendente para mediadores de leitura em situações as mais diversas.
A obra de alto nível acadêmico - basta olhar a bibliografia efetivamente presente na pesquisa - tem uma linguagem e um discurso muito sedutores, capazes de colocar na roda os não iniciados. Sua contribuição para pensar a leitura e a formação de leitores extrapola o recorte da cegueira.
Eliana Yunes, professora associada do departamento de Letras, coordenadora adjunta da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio
"Tornar-se cego é algo que subverte todo o universo de autores e leitores apaixonados por livros. As fileiras de lombadas expostas nas prateleiras já não têm mais sentido, é preciso reagrupá-las mentalmente e instintivamente; a marcação de parágrafos e de páginas se perde. Muda, principalmente, a relação física com o livro. Tê-lo nas mãos, cheirá-lo e sentir a textura ainda é possível, mas as anotações de pé de página, nas bordas brancas, esparsas, a intervenção do leitor, estão fora de questão. O silêncio inquebrantável, a sensação de cumplicidade, de estar só com a imaginação e o livro, e a leitura como sinal de privacidade se perdem, se modificam, para ganhar a dimensão de uma leitura agora compartilhada. A voz interior, criada para a discussão interna no silêncio, vê-se invadida por uma nova voz, vinda de fora, a voz do ledor, a princípio invasiva, depois cúmplice."
Se ler é um ato de coragem em si mesmo, barthesianamente falando, ato de coragem é a empresa desta pesquisadora Denise Schittine que, com fôlego extraordinário, dialoga com Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto, dissecando vozes e silêncios para abrir passo a universos vastos como o de ledores e de leituras compartilhadas que são contribuição surpreendente para mediadores de leitura em situações as mais diversas.
A obra de alto nível acadêmico - basta olhar a bibliografia efetivamente presente na pesquisa - tem uma linguagem e um discurso muito sedutores, capazes de colocar na roda os não iniciados. Sua contribuição para pensar a leitura e a formação de leitores extrapola o recorte da cegueira.
Eliana Yunes, professora associada do departamento de Letras, coordenadora adjunta da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio
"Tornar-se cego é algo que subverte todo o universo de autores e leitores apaixonados por livros. As fileiras de lombadas expostas nas prateleiras já não têm mais sentido, é preciso reagrupá-las mentalmente e instintivamente; a marcação de parágrafos e de páginas se perde. Muda, principalmente, a relação física com o livro. Tê-lo nas mãos, cheirá-lo e sentir a textura ainda é possível, mas as anotações de pé de página, nas bordas brancas, esparsas, a intervenção do leitor, estão fora de questão. O silêncio inquebrantável, a sensação de cumplicidade, de estar só com a imaginação e o livro, e a leitura como sinal de privacidade se perdem, se modificam, para ganhar a dimensão de uma leitura agora compartilhada. A voz interior, criada para a discussão interna no silêncio, vê-se invadida por uma nova voz, vinda de fora, a voz do ledor, a princípio invasiva, depois cúmplice."