Um marinheiro em terra é como um pássaro em terra: está e não está. A nostalgia do mar habita-o não como a uma concha por exemplo, o que já seria muito habitar, mas como o apelo da morte nas entranhas do moribundo ou do nascituro - um apelo único e inapelável, a cada instante mais instante. Quando pisei em terra o cais parecia fogar, e equilibrava-me para compensar o jogo - diz um personagem de Maria de cada Porto: desequilibrava-se, era o que queria dizer.
Pois aqui voltam os marinheiros do marinheiro Moacir C. Lopes a pisar não pisando a terra firme, a terra parada como ele a chama parada não por culpa sua, dela, mas do homem parado e sem imaginação, do paisano, dia após dia no mesmo serviço e no mesmo escritório abafado, espera do esperado aumento - apenas, como marinheiros, voltam navegando nesta terra e fazendo-a navegar, os olhos cheios de mar, o mar cheio de olhos: A proa do navio é o começo do mundo; sentado, daqui estou vendo o resto diz ainda o personagem de Maria de cada Porto.
Esse resto, este mundo, transfigurado pela magia do mar, pela magia do marinheiro Moacir C. Lopes, alcança neste Cais, Saudade em Pedra, dimensões líricas e sobretudo oníricas como dificilmente não hão de encontrar iguais em qualquer ficção, e não apenas na ficção brasileira. O chamado realismo mágico esse poder de encantação e de iluminação da existência sem o falso recurso de sésamos ou abracadabras, antes pela cumplicidade com o fantástico e o mistério ocultos nas coisas e nas criaturas encontra aqui a sua expressão mais acabada, como se de repente nos fosse dado olhar a realidade ou o que parece a realidade através de um olho mágico, pregado não mais numa porta mas na nossa própria testa. O que aparecia como o cotidiano revela-se para sempre insólito, o que era o real transmuta-se no imaginário e no fantástico: dos escombros de um simples navio ou de um mundo em naufrágio irrompe a cada instante, como num fogo-fátuo, todo um clarão de poesia, sem que nada mais tenha acontecido senão a presença do mar na presença dos marinheiros, balançando as casas e os espíritos, as paredes e os seus emparedados, o próprio ontem e o amanhã balançando - balançando e ainda balançando.
Toda a busca de Délio através das pontes e ruas fantasmagóricas do Recife, os tiros de luz circundando como um halo a pureza e a loucura do náufrago Coroa, a incorrigível candura do marujo Providência sob o sol e sob a lua, Gerson amando Norma que ama um espectro dentro de Gerson, a ronda nupcial das prostitutas nas dunas desertas da praia de Imbutiba: tantos e tantos outros momentos que fazem deste extraordinário romance um iluminado e luminoso painel da triste e desesperada aventura humana - da cada vez mais maravilhosa aventura humana.
Pois aqui voltam os marinheiros do marinheiro Moacir C. Lopes a pisar não pisando a terra firme, a terra parada como ele a chama parada não por culpa sua, dela, mas do homem parado e sem imaginação, do paisano, dia após dia no mesmo serviço e no mesmo escritório abafado, espera do esperado aumento - apenas, como marinheiros, voltam navegando nesta terra e fazendo-a navegar, os olhos cheios de mar, o mar cheio de olhos: A proa do navio é o começo do mundo; sentado, daqui estou vendo o resto diz ainda o personagem de Maria de cada Porto.
Esse resto, este mundo, transfigurado pela magia do mar, pela magia do marinheiro Moacir C. Lopes, alcança neste Cais, Saudade em Pedra, dimensões líricas e sobretudo oníricas como dificilmente não hão de encontrar iguais em qualquer ficção, e não apenas na ficção brasileira. O chamado realismo mágico esse poder de encantação e de iluminação da existência sem o falso recurso de sésamos ou abracadabras, antes pela cumplicidade com o fantástico e o mistério ocultos nas coisas e nas criaturas encontra aqui a sua expressão mais acabada, como se de repente nos fosse dado olhar a realidade ou o que parece a realidade através de um olho mágico, pregado não mais numa porta mas na nossa própria testa. O que aparecia como o cotidiano revela-se para sempre insólito, o que era o real transmuta-se no imaginário e no fantástico: dos escombros de um simples navio ou de um mundo em naufrágio irrompe a cada instante, como num fogo-fátuo, todo um clarão de poesia, sem que nada mais tenha acontecido senão a presença do mar na presença dos marinheiros, balançando as casas e os espíritos, as paredes e os seus emparedados, o próprio ontem e o amanhã balançando - balançando e ainda balançando.
Toda a busca de Délio através das pontes e ruas fantasmagóricas do Recife, os tiros de luz circundando como um halo a pureza e a loucura do náufrago Coroa, a incorrigível candura do marujo Providência sob o sol e sob a lua, Gerson amando Norma que ama um espectro dentro de Gerson, a ronda nupcial das prostitutas nas dunas desertas da praia de Imbutiba: tantos e tantos outros momentos que fazem deste extraordinário romance um iluminado e luminoso painel da triste e desesperada aventura humana - da cada vez mais maravilhosa aventura humana.